Apesar da curta carreira cinematográfica, Eliane Lage foi uma das maiores estrelas da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, o lendário complexo de estúdios cinematográficos que tentou reproduzir no Brasil o modelo de produção do cinema neorealista italiano. Protagonista de clássicos do es-túdio, Eliane Lage tornou-se um ícone do cinema brasileiro, mais conhecida como a Greta Garbo brasileira e também comparada à atriz Ingrid Bergman.
Agora, aos 94 anos, Eliane lança uma nova edição revista e ampliada de seu romance autobiográfico Ilhas, Veredas e Buritis. Uma das novidades é o prefácio da cineasta Helena Solberg, Sobre Eliane, ela escreve: "A primeira vez que a vi foi em Goiás, durante a projeção de um filme meu em um festival de cinema, em 2005, e me lembro do espanto que me causou. A presença física de Eliane Lage era muito forte. Teria por volta de 80 anos, alta, queimada de sol, uma mistura de camponesa e aristocrata. Tudo o que ela não queria ser! Intrigante e misteriosa! Uma personagem!"
Outra novidade é o posfácio afetivo escrito pelo neto André Lage: "A coisa mais linda é ser criado por alguém que te ama e te quer ver livre. Imagine que sorte nascer em uma casa onde circulam, não só Eliane Lage, essa mulher incrível (pela qual eu sei que você está apaixonado ou apaixonada), mas também seus filhos criados para serem livres. Olha...era demais! No começo eu achava que a vida era assim. Só depois, quando comecei a frequentar outras casas, foi que comecei a ver famílias com relações cheias de proibições, hierarquias rígidas, regras e punições. Achei aquilo tão estranho. Mas os estranhos éramos nós", observa o neto.
O livro passa em revista toda a vida da atriz, desde sua infância vivida na ilha de Santa Cruz na Baia da Guanabara, sua carreira no cinema, seu casamento e as muitas aventuras que a levaram nos anos 70 a Pirenópolis, Goiás, onde reside até hoje. Eliane é bisneta de Tonico Lage que construiu grandes negócios como minas de carvão no sul do país, salinas em Cabo Frio, estaleiros, a frota de navios Ita. Eliane é também sobrinha do industrial Henrique Lage, que expandiu os negócios da família e construiu o Parque Lage para sua esposa, a cantora lírica italiana Gabriela Besanzoni - onde Eliane também passou períodos de sua infância.
A autora narra, ainda, sua relação de estreita proximidade com a socialite Yolanda Penteado - a quem chamava de tia - que foi casada com o industrial e mecenas Ciccillo Matarazzo. Foi num jantar na casa de Yolanda que Eliane conheceu seu futuro marido, o diretor de cinema anglo-argentino Tom Payne, que viera ao Brasil a princípios dos anos 50 para trabalhar nos primeiros filmes da Vera Cruz. Yolanda era contra o casamento de Tom e Eliane, pois acreditava que o diretor era um "aventureiro", vindo de dois casamentos e posteriores "desquites". O casamento dos dois, feito por procuração no México em 1951, durou 15 anos e lhe deu 3 filhos e 6 netos.