Os personagens de Hotéis se iludem com a possibilidade de desaparecer. Um ator e uma atriz de filmes pornô acompanhados de uma menina, filha da atriz, fogem de suas vidas passadas e pegam a estrada a bordo de um Chrysler Imperial. Viajam por caminhos poeirentos, por "paisagens de países pobres". Hospedam-se em hotéis de passagem onde reconhecem em outros hóspedes algo de si mesmos, protagonistas de vidas tão impessoais quanto suas próprias existências. Gente que não tem nada mais a perder, a não ser o rumo.
Romance de estrada com força lírica e poderosa visualidade, Hotéis se apoia no mito moderno propagado pelo cinema norte-americano, a ideia de que retornar à nossa verdadeira casa é algo simplesmente impossível, como pregava Nicholas Ray. "Viajamos para formar imagens. Viajar é construir uma paisagem privada, uma coleção de espaços mutantes: cidades que são fragmentos de muitas cidades", afirma um dos personagens.
A história de Tero, Abigail e sua filha Andrea é assim investigada por um documentarista, alguém que gostaria de compreender seu próprio passado por meio dos outros, o narrador de um enigma insolúvel. Na trilha de Raymond Carver, Denis Johnson e Sam Shepard, o escritor boliviano Maximiliano Barrientos criou uma pérola de minimalismo. É "um mestre das imagens profundas", como afirmou Fabián Casas, "dos interstícios onde se cruzam os destinos, esses pequenos motores invisíveis que fazem com que o mundo narre".