Em 7.10.2023 o Hamas ataca um conjunto de povoações no chamado «envelope de Gaza». As notícias do aterrador e revoltante ataque, com ampla cobertura mediática, vêm exigir uma tomada de posição moral de todo o mundo pela reprovação dos massacres. Todavia, na esfera política, o governo israelense, como reacção imediata declara guerra aos «animais» que perpetraram a matança.
Recusando que o juízo se cinja ao quadro, limitado e maniqueísta, proposto pelos meios de comunicação social, Judith Butler propõe um responsável alargamento moral deste quadro, identificando o presentismo e o sensacionalismo da indignação moral, mas também, as objecções críticas decorrentes da «relativização» e da «contextualização» do brutal acontecimento.
Neste sentido, considera «proporcionar um entendimento mais profundo da situação, algo que o simples e incontestado enquadramento do momento presente não poderá fornecer». Em vez de se limitar à condenação moral e política da violência trata de descobrir as causas da situação presente e antever as possibilidades de mudança das condições, para que um futuro de violência não seja o único possível. Se, com efeito, as «formas de racismo colonial [...] são parte do problema estrutural a resolver, da persistente injustiça a superar», importa pois não só denunciar a política de ocupação e apartheid, que reemerge do conflito territorial israelo-palestino, como inscrever o longo alcance de luto e lamentação que, ao longo de décadas, consitui o memorial das suas inúmeras vítimas. Como afirma, com clarividência: «não podemos permitir-nos ignorar a história da injustiça em nome da certeza moral, já que desse modo incorremos no risco de cometer novas injustiças, e a nossa certeza está condenada a capitular, mais cedo ou mais tarde, nesse terreno instável».