A vendedora de fósforos, de Adriana Lunardi, é a um só tempo o sonho da menina do conto homônimo de Andersen ao riscar seu último fósforo, e a afirmativa potente da escritora ao reinaugurar a vida através da literatura. Num sopro de fecunda criatividade, o enredo nos leva a conhecer o passado embebido de realismo fantástico da protagonista e um presente ávido por diálogo e autoconhecimento nas brumas do que já foi vivido.
No ambiente de uma família marcada pela dificuldade de fixar residência, identifica-se o constante questionamento da figura paterna e um amor pulsante e inefável pela mãe. A inevitável reconstituição do modelo familiar caberá ao irmão mais velho, enquanto a admiração entre as irmãs chega à loucura. Amor, literatura e tudo aquilo que não podemos possuir e não sabemos dividir é exatamente o que aproxima e afasta a personagem central de sua irmã.
Com referências sólidas no universo literário, a autora nos ensina sobre o poder dos livros, capazes de salvar uma vida e de mudar o passado e o presente.